O início

3 meses e uns dias que a nossa vida mudou (admito que tive dificuldade em fazer esta conta, pois parece que já é uma eternidade)  não mudámos de casa, não escolhemos comprar um carro de família, não mudamos de trabalho, enfim, não tivemos poder de controle ou decisão. A vida "presenteou—nos" com o desafio maior de sempre, a doença do nosso filho, o nosso filho saudável, o nosso filho desenvolvido e com tanto para nos ensinar tem um cancro.
 
 
A Vida corria bem dentro do normal, talvez não o normal das famílias vulgares, em Março eu e o J tínhamos decidido que queríamos dar um futuro bom ao nosso filho, queríamos resolver algumas situações antigas e para isso teríamos mesmo que pensar naquele tema que é tão dificil para mim,emigração e assim foi foram uns meses complicados onde as saudades eram constantes e o desejo de estarmos todos juntos era persistente.
Eu cá fiquei com o Du, sempre tentado que a nossa vida fosse o mais normal possível em Setembro começou a escola pela primeira vez, e eu tentava nesse bocadinho ter tempo para terminar a carta de condução e fazer tudo o que era mais complicado quando estava com ele, os nossos serões eram com o nosso amigo Skype a tentar de certa forma "matar" as saudades do nosso papi, como lhe chamamos.
 
 

Dia 20 de Outubro, vou com o D ao pediatra, tem febres estranhas e está amarelado. Vamos avaliar, tudo tranquilo, só mais uma ida ao pediatra com o saco das fraldas e a mala da mãe: "chega e sobra, é só ir ao pediatra e voltar".
Análises? Ok análises, vamos ver.
Entre o choro dele, e as picadas constantes, entre o entra e sai, o pica de novo porque não foi suficiente.
O meu coração começou a bater, não quero ver mais o meu filho sofrer..
Chega o pediatra: "O Duarte tem que ir já para o hospital de Cascais, tem as plaquetas baixas e tem um pouco de anemia."
Estranhei, não me perguntem o quê mas estranhei.. Estranhei as caras, estranhei as palavras de força.
Até que entre as pernas a termer e o medo constante perguntei ao pediatra: "O que se passa com o Duarte? É grave?"
"Não é grave, é perigoso!"

Na verdade estranhei aquilo tudo, pedi logo ao J que viesse para ao pé de mim, que apanhasse o primeiro avião porque se passava alguma coisa.
 
Hospital de Cascais, quando chegamos eu termia por todos os lados, levei o Du ao colo e lembro—me de muito pouco, recordo—me que trazia a carta fechada do pediatra e que na triagem quando o enfermeiro abriu a carta, olhou para mim, novamente com aquele olhar estranho, eu chorei compulsivamente e pedi para entrar logo porque estava muito preocupada, a médica observou logo o Duarte.. Tinha as tais petequias.. Sei que ficamos numa sala grande de observação onde estava outra mãe com uma menina ao colo. Tiraram mais sangue ao Duarte, ele estava cansado, e eu só queria tirá—lo dali .. Perguntava a toda a gente o que se passava, toda a gente.. eu queria uma resposta.
 
Até que umas horas depois veio a médica com uma cara tão estranha:
" Preciso que assine uns papeis porque o Duarte vai ter que fazer transfusão de sangue, e amanhã de manhã vão ao IPO fazer um exame"
Caiu—me tudo, gaguejei, queria perguntar tudo e não me saía nada.. Respirei fundo e pensei: "Cláudia tem calma o teu filho não tem voz, tu tens que saber o que se passa, tens que manter a tua postura"
Depois daqueles segundos de silêncio com os papeis na mão eu perguntei muito acertivamente:
—Ao IPO? Estamos as duas a falar da mesma coisa?
— De quê? Diga o que está a pensar que eu respondo—lhe"
— Linfomas, leucemias ... estamos a falar que o meu filho pode ter uma destas coisas?!
— Sim, pode!
— Mas pode também não ter, pode ser uma virose certo?
— É isso que vai ao IPO fazer.

Pedi para a minha mãe ficar ao pé de mim, lembro—me que choramos juntas e que acreditamos que não ia passar de um susto.

Foi uma noite horrível, o Duarte chorou a noite toda estava cansado, e cada vez que adormecia, vinham fazer mais alguma coisa.. Eu estava dormente, a minha cabeça estava um caos, eu achava que aquilo era um pesadelo.

IPO
Começou o nosso pesadelo, quando vi o J parece que descansei, senti—me mais segura e protegida.
Sabia que juntos iamos conseguir pensar melhor e sabia que ele mais do que ninguém compreendia a minha dor, sempre fomos muito amigos e naquele dia abraçamos nos e acreditamos que iamos seguir esta batalha juntos fosse ela qual fosse.
Tinhamos já a certeza que iamos ficar internados.

O J chorou chorou chorou, eu chorei chorei, chorei mas ao pé do nosso filho tivemos sempre a capacidade de brincar com ele e transmitir—lhe fé e força.

O diagnóstico demorou ainda duas semanas a chegar, duas semanas de angústia. Sabiamos já, que era uma Leucemia e demos por nós a rezar para que ao menos fosse uma linfoblatica.
Não é.
O Duarte tem uma LMA M7, uma doença que é bastante forte e muito mais chata de tratar do que as linfoblasticas.

Os nossos meses têm sido entre as nossas duas novas casas, IPO e a nossa casa.
Continuamos com a nossa fé que nos move todos os dias, pergunto muitas vezes "porquê o nosso filho", a resposta talvez algum dia encontrarei..

Sei agora que sou uma pessoa diferente, que tenho uma família que amo, e que acima de tudo tenho um filho muito muito Especial !


Obrigada a quem me leu.

Um grande bem-haja,
A mãe do Duarte

7 comentários :

  1. As batalhas são entregues aos grandes guerreiros. Muita força. Beijinhos grandes vocês vão vencer.

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  2. As batalhas são entregues aos grandes guerreiros. Muita força. Beijinhos grandes vocês vão vencer.

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  3. Muita força aos papas!
    Infelizmente a vida é mesmo injusta.

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  4. Um beijo muito grande e muita força!
    O Duarte é uma estrelinha linda que estará sempre convosco no coração!!! ***

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  5. Comovi-me muito com esta história... Tenho uma filha de 26 meses e quando fez 2 anos pessámos por um grande susto. Suspeitou-se de algo oncológico mas felizmente foi uma bactéria na zona hepática. Foi uma semana horrível!
    Por isso mamã quero desejar muita saúde para o pequeno Duarte e muita força para os pais nesta batalha tão injusta...

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