domingo, 31 de janeiro de 2016

Impotência

Noutra hora eu falarei, agora não.

Agora preciso de falar comigo, responder às minhas questões se é que elas têm resposta.
Falemos de impotência, sentimento de incapacidade, o que lhe queiram chamar. Esse sim dói e mói.

Sonhamos a vida toda com o quadro perfeito, aquele em que aparece o papá apaixonado pela mamã com um ou mais bebés, tudo tão perfeito.
Eu sempre sonhei com o quadro perfeito, a nossa casa, o nosso emprego estável, e claro o nosso bebé saudável.

Quando brincava com os meus "bebés" em criança, alimentava—os, dava—lhes banho, fazia—lhes ohoh, imaginava o marido a chegar a casa, enfim, tudo aquilo que a minha mente criativa me permitia imaginar.

Mas no meio de todas essas brincadeiras não me recordo de levar o meu nenuco á quimioterapia, não me lembro de ele estar doente e de eu ter que ter força para encarar tudo. O que é certo é que nenhuma mulher é formatada para lidar com uma situação de impotência perante um filho. E a grande verdade é que não há ninguém que tenha uma resposta ou medicamento para isso..

Vem do coração, e ele dói.

Choramos com as dores deles... choramos com a alma... Choramos com a pior dor de todas as dores, a impotência perante o nosso nenuco.
Jamais conseguiremos ter sempre uma postura positiva e alegre, mas podemos ser honestos e admitir que esta dor, dói.

Que hoje não estamos tão bem.
Que por vezes nos sentimos também cansadas, somos humanas.
Há uns anos atrás li uma frase que até hoje está constantemente na minha cabeça: "Nada é eterno, nem mesmo os nossos problemas"
Eu creio que depois disto terei o meu "quadro perfeito", os papás apaixonados com o bebé saudável e o resto nós conquistamos aos poucos como sempre fizemos.
Creio também que esse quadro será mais forte e unido, mais consciente, com uma forte capacidade de resiliência e compaixão.
Não seremos nunca mais os mesmos, porque ninguém o é...
Mas certamente seremos muito melhores.

Um abraço directamente do isolamento,
A MÃE DO DUARTE

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Aceitação




















Talvez ainda não tenha aceite que isto nos aconteceu, tenho em mim todas as perguntas do mundo e provavelmente todas as perguntas que todos os pais nesta situação têm. 

Tenho em mim todas as perguntas do mundo, mas que mais me assombra é o medo permanente de perder o meu filho. 
O que faz uma mãe sem o seu rebento?
Não é esta a lei da vida, ele sim, um dia vai-me ver partir, eu não! Eu não estou preparada. 

Não há outra forma de encarar a realidade se não "de frente" para ela.

Aceitar que é esta a nossa realidade, fazer tudo que está ao nosso alcance para melhorar a nossa vida e a do Du, somos muito atentos e cuidadosos talvez por medo, não sei. 
O medo anda em mim todos os dias, a todas as horas. Mas acredito também todos os dias que dias melhores viram, e que depois deste processo, seremos sem duvida pessoas melhores. 

Vamos então sorrir e aceitar, encarar cada dia com o que ele tem para nos dar, e todos os dias o D nos dá essa vontade de sorrir. 
Conhecemos agora pessoas fantásticas, e uma realidade completamente diferente daquela que conhecíamos.

Fico surpreendida ao observar as mães destroçadas, assustadas, mas com uma força inabalável, sempre a sorrir por aqueles corredores que tanto fazemos durante os nossos internamentos. 
É incrível a força que as pessoas ganham nestes momentos de provação.
Em mim tenho todos os medos do mundo...
Em mim tenho todas as perguntas do mundo...
Mas em mim tenho também um amor incondicional que me move.
Também choro, também sou fraca, mas sou humana e nunca ninguém me ensinou a ser diferente, chorar faz parte.. E sorrir não é crime mesmo quando temos um filho doente... Acredito que a alegria, as brincadeiras, a boa disposição tem um grande papel neste processo.

Por isso por mais que estejamos desfeitos por dentro tentaremos sempre manter a boa disposição que sempre nos descreveu. 

Com amor,
Mãe do Duarte