terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Ele não é a Leucemia!





Tenho que admitir: Estou cansada de aqui estar, não é fácil não termos a nossa privacidade, e a nossa "casa" se resumir a um quarto de hospital por tempo indeterminado... 
Coisas que não dava valor agora dou: Jantar em casa, por exemplo.
Os dias são longos e as noites trazem escuridão, trazem medos, mas trazem muita introspecção também. 
Isto á uns meses era tão longínquo para mim, nunca pensamos conhecer tão de perto a pediatria do IPO, pelo menos neste contexto. 

A doença dos nossos filhos é sem dúvida o maior desafio que a vida nos pode dar, destrói qualquer estabilidade. Mas ao mesmo tempo estes momentos difíceis na nossa vida confrontam—nos com a dura realidade que é perceber que aqueles que julgavamos que iram estar sempre ao nosso lado na verdade não estão, ou porque dá trabalho, ou porque é chato, ou tão somente porque "não são capazes de vir aqui". 
E se eu não fosse capaz de vir aqui?
 A mim ainda mais confusão me deveria fazer, ora, metade das crianças que aqui estão em estados mais, ou menos críticos, não importa, têm o mesmo que o meu filho, ou parecido. 
Como seria se eu não fosse capaz?!
Felizmente sou, sempre fui e sempre serei....Capaz!! 
Capaz de dar ao meu filho a dignidade que ele merece, e estar com ele onde ele estiver;
Capaz de estar ao lado dele no IPO, com a mesma dignidade e amor que o levarei ao ZOO.
Capaz de olhar para ele, e vê—lo a ele, não importa onde está, é ele. 
Mãe é mãe, e eu sou mãe, sou a mãe do Duarte, e não vos faça confusão pfv, ele estar aqui ou em casa, ele ter cabelo ou estar careca.
Ele é o Duarte. 
E tenho a certeza que ele é muito feliz, e tem muito amor á sua volta.
Ele não é a Leucemia e os seus efeitos chatos, ele não é mais um menino internado no IPO, ele é o Duarte, e cada um merece individualmente o nosso amor e dignidade.

E quem o ama e o honra, terá para sempre o meu amor.

Com amor,
A MÃE DO DUARTE 



Sorrir na dor





















Em todos os sorrisos é o teu que mais amo...
Em todos os sorrisos do mundo o teu é o que mais me contagia...
Em todos os sorrisos do mundo, é o teu que eu quero ver para SEMPRE.
Ele aquece-me a alma, e faz-me borboletas na barriga de felicidade.
Ser mãe é mesmo incrível.
Partilho convosco que desta vez o meu coração está cada vez mais apertadinho, o medo, aquele de que vos falei no outro dia, esse não me larga.
Mas sabem que mais?! Deixei—o andar em mim, aceitei—o como se algo normal se tratasse.
Qual é a mãe que não o tem? 
Sinto o mundo á volta cada vez mais fútil, e eu, estou cada vez mais focada em mim, e no meu filho.
Sabem o que tenho pensado imensas vezes? 
"Andava eu na minha vida, achando que tinha problemas." 
Aqui é um dia de cada vez, e hoje, D4 (quarto dia desta quimioterapia), agradeço a Deus o meu filho, a benção de o ter agora comigo.
Ele é sem dúvida o meu maior orgulho.
Agradeço o meu marido o papi João: Ele tem sido cada vez mais o meu melhor amigo e companheiro, nesta nossa caminhada.
Agradeço a  minha família linda: 
Que na dor, tem a capacidade de sorrir. 

Com amor, 
A MÃE DO DUARTE

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Era uma vez há um ano atrás...






















Era uma vez há um ano atrás, uma mãe que jamais pensaria que passado um ano o ia reler no IPO.

Relendo a minha pele arrepiou, e certamente o meu amor puro continua.
Partilho convosco este texto:


"É contigo na maminha que te escrevo esta carta, ao olhar os teus olhos negros de azeitona e a tua satisfação por este momento que é sempre tão nosso...
É com tanto amor que todos os dias acordo de manhã e te vou buscar á tua caminha, e tão bom que poderia ir buscar-te á caminha a vida toda...
É com tanto amor que te aconchego á noite, tanto que faria isso o resto da minha vida...
E um dia quando fores maior a mãe vai-te contar como eras mimadinho...
Ser mãe fez-me amar mais este serZinho mais do que qualquer outra coisa no mundo.. Fez-me pensar nele antes de pensar em mim.. Fez-me mudar radicalmente, tornando-me mais responsável e consciente... Fez-me amar mais quem ama o meu filho, e desprezar ainda mais quem o despreza .. Ser mãe fez-me amar mais a minha mãe ... Fez-me por instinto descobrir coisas que jamais sonhava saber... Fez-me perceber que aqui quem ensina és tu a mim... Sinceramente não tenho saudades da Claudia que não era mãe, porque cuidar de ti é o melhor e mais gratificante trabalho que poderia ter.. Lembra-te meu anjo um dia que a mamã tiver que te deixar para ir ganhar tostões a mãe vai voltar sempre... Um dia que a mãe te ralhe e não te deixe fazer alguma coisa será exactamente com o mesmo amor que te aconchego no meu peito.. E lembra-te bebe que a mãe fará tudo para te passar toda a educação e valores que sabe, e um dia que aches que isso não será relevante para a tua vida, lembra-te de lembrar a mamã que a base de te criar é o carinho mas também a persistência.. A mãe estará sempre sempre contigo, mesmo quando não estiver! Será necessário dizer que te amo incondicionalmente?! Penso que não porque não há palavra que explique. Realmente é verdade mãe é mãe, e eu amo ser tua mãe.
Obrigada amor Joao Batista por me proporcionares esta experiência tão boa.. Foi o melhor "acidente" das nossas vidas ♥️ amo a minha família, mesmo !"

E hoje sim é preciso dizer—te todos os dias que te amo incondicionalmente, porque agora vivemos um dia de cada vez, e ao teu lado, todos são uma vitória.

Com amor,
A MÃE DO DUARTE

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Medo




















Sinto medo a todas as horas...
Sinto medo a cada sorriso, a cada miminho, sinto medo a cada birra...
Sinto medo deste medo...
Sei que é normal, sou humana...
Tenho medo que este medo me derrote e me faça perder a força...
Tenho medo tão somente de sentir medo...
Sei o que dizem que sou, sei até que na verdade eu sou mais do que medo, sei que na verdade eu sou capaz de proteger o meu filho até que a minha própria vida me permita.
Então porque não sou capaz de lhe tirar o sofrimento? Queria ser, queria que fosse meu...
A minha dor não é o medo, porque o medo não dói, a minha dor não é física mais valia que o fosse, a minha dor não se vê porque ela chora escondida, ela aninhou—se a mim e não quis ir embora... É a dor da impotência, a dor da alma. Ela vive comigo assim como o medo, mas acho que é normal... Acho que qualquer mãe a tem...
Elas são grandes mas não são maiores do que a minha vontade de ver o meu filho crescer, não vão ser nunca maiores do que a força de uma leoa, nem maiores que uma tal fé, que é a minha.
Que seria de mim sem ela?
No fundo o que estaria eu a fazer se não fosse essa esperança lá longe?

Eu sei que ela está longe, mas quando chegar esse dia, eu e ele vamos saber que não foi nada fácil mas que conseguimos.

E sempre á volta daquilo que nos move, o nosso amor, esse não há medo, nem doença capaz de destruir.

Com amor,
A MÃE DO DUARTE