sábado, 26 de março de 2016

Onde há vida, há esperança!















Onde há vida, há esperança... 
E é isso mesmo, o meu filho, tem vida, tem tanta vida nele...
 E nós, nós temos tanta esperança na vida que ele ainda tem. 
Não vos sei explicar o que senti quando me disseram "não há mais nada a fazer"!
Como não há mais nada a fazer? O meu filho tem 15 meses... Tem tanta vida pela frente... Eu quero levá-lo ao primeiro dia de escola, eu quero vê-lo a andar pela primeira vez... Eu quero mais birras, eu preciso de muito mais birras...
Foi um misto de emoções, ao mesmo tempo não o quero sujeitar a mais sofrimento... Mas vejo-me obrigada a parar, quando eu quero é remar pela vida dele. 
O meu mundo desabou, mais do que no dia que me disseram que ele estava doente.
Porque: "Está doente?! Ok ... Vamos tratar.
Não resultou. Ok... Então o que resulta?!"
Há sempre uma batalha dura é verdade, mas há.
Agora não há mais nada a fazer ?! E agora?! O que é suposto eu dizer? Ou fazer? 
Acreditava eu na minha ignorância, que seria capaz de saber parar, na altura certa. Mas hoje sei que dificilmente eu vou conseguir parar.
Acreditava eu que se fosse altura de mostrar ao meu filho tudo e mais alguma coisa (fora do ambiente hospitalar), eu seria capaz de mesmo destruída por dentro, de fazê-lo. 
Mas não sei, na altura talvez saberei. Mas naquele dia eu não soube. 
Naquele dia eu só soube que não o queria perder, e que para mim não era altura para parar. 

Alguém ouviu o meu silêncio, alguém escutou a minha dor, aquela que se via e que toda a gente viu, mas a verdadeira estava na minha alma, que doía como nunca. 

No dia seguinte, há uma esperança, 
É verdade, os médicos não acreditam que o Duarte se consiga curar.
É verdade, nem tudo está a correr como esperávamos...
Mas sabem? O meu coração de mãe, sorriu.

Ainda há alguma coisa a fazer:
O Duarte tem um dador (obrigada a todos os que perdem um pouco do seu tempo para salvar vidas, de outra forma o meu texto seria diferente)
É verdade que não poderá fazer transplante antes de estar em remissão.
Mas ainda há uma esperança.
Vamos fazer um tratamento experimental.
Temos mais uma batalha pela frente.
Temos tempos difíceis (ou menos fáceis) pela frente...
Mas temos vida em nós, temos todos os sonhos do mundo, temos todo o nosso amor e dedicação para lhe dar, todos os dias, e até ao fim.

Uma boa páscoa a todos.

Com amor,
A MÃE DO DUARTE  

quarta-feira, 23 de março de 2016

Quero salvar o meu filho

Tenho em mim todas as forças do mundo, quero só uma unica coisa... SALVAR O MEU FILHO!
Recebemos a noticia que não queríamos receber o Duarte tem bastante doença ainda.
Fiquei de rastos? Não (sou mãe, eu sabia). 
Mas isso não invalida que esteja a existir em mim um misto de sensações que quase não consigo adjectivar. 
Só há uma questão aqui, uma, quero salvar o meu filho.
Seja aqui ou em qualquer parte, quero salvar o meu filho.
Sabem? Talvez salvá-lo passe apenas por tirar-lhe o sofrimento, é o que tenho feito, tudo menos ele sofrer, prefiro sofrer eu.
E sabem? Ele é tão feliz!
Feliz ignorância do meu filho que não sabe, ou que sabe, e não dá importância.

Ele quer ser feliz - e é, muito.

Usufruo tanto dele, usufruímos dele a cada birra, usufruímos a cada gritinho, a cada sorriso. 
Mas o meu coração de mãe só tem um pensamento: "Quero salvar o meu filho".
Sabem? Quando o Duarte adoeceu, ainda não sabíamos o que ele tinha eu encostei-me á minha mãe, e durante aquele abraço de aconchego eu disse: "Mãe se o menino tiver algo de grave, eu não vou aguentar".
E aqui estou eu, passados 5 meses e curioso: Eu aguentei. E cada vez aguento mais...

Apesar do meu coração de mãe gritar: "chega", a cada noticia menos boa, ele fica mais forte... E foca-se apenas numa coisa: " Eu quero salvar o meu filho" mas acima de tudo eu não quero sofrimento. 
Ainda não sabemos qual será o próximo passo, mas for ele qual for, seja ela qual seja a nossa decisão em relação ao Duarte, eu espero ter o meu coração protetor na boca, e decidir consoante o que for melhor para ele, e lhe cause o minimo sofrimento possível,    
Eu que achava que sabia tudo sobre amor, não sabia NADA !!!
Agora sei, um pouco mais, muito mais... Amor é isto: "Salvem o meu filho, mas não o façam sofrer".
Amor é isto: "Amo-o mais do que todas as minhas forças conseguem expressar, mas se for para ele partir, dê-me forças para o deixar ir em paz, e sem sofrimento e egoísmos.
Que desafio de vida.
Que sofrimento desumano...
Que revolta...
Que impotência... 

Esta doença que habita no meu filho e que insiste em permanecer, tirou-me o chão, mas jamais me tirará a força de lutar pela vida dele. 

Farei tudo o que está ao meu alcance...
Farei tudo o que a minha consciência me permitir...

Seja qual for o desfecho, farei sempre tudo, para salvar o meu filho, ou da doença, ou do sofrimento. 

Hoje com dor na alma, e uma determinação animalesca

Mas com amor,
A MÃE DO DUARTE

domingo, 6 de março de 2016

Conversei com a Vida














Quero conversar com a vida...
Quero conversar contigo que me vês e que sabes o que são e serão as minhas aprendizagens necessárias.
Quero conversar contigo e perguntar-te se vou poder cheirar o meu filho para sempre, se vou poder dar-lhe o banhinho e adormecer no colo dele...
Quero que me mostres que estou a fazer tudo o que posso fazer porque o meu coração de mãe diz-me que é sempre pouco...

Também queria que me assegurasses o meu lado dependente, garantindo-me que ele terá sempre uma presença física na minha vida, garantindo-me que a mãe terra o acolherá até ser a hora suposta de ele ir (se possível depois de mim).

É isto que nos assombra todos os dias,  a nossa ligação física a um ser, que julgamos ser nosso.

Repara, eu carreguei-o no meu ventre, eu amei-o desde o primeiro segundo que soube que ele existia em mim, eu trouxe-o até ti... E confrontas-me com a realidade dura e crua que o posso perder?! 
Não estou revoltada contigo, nem comigo, na verdade está tudo certo.
E obrigada por acreditares que eu seria capaz de lidar com todo este pesadelo da melhor forma...
Obrigada por me mostrares que fracos são os que não tentam, e que a doença é apenas o Diagnóstico, tudo o resto é amor que nos move, e esse tu deste-me o prazer de o conhecer da forma mais pura e incrível.
Mas e o apego? Diz-me como lido com isso? 
Eu sei que ele não é meu... Mas é inevitável, eu sinto-o meu. 
É isso que me queres ensinar?!  
Talvez um dia eu tenha todas essas respostas, tu a pouco e pouco vais-me mostrando...
Eu sei que nem sempre pareces justa, mas depende da perspectiva, se não fosse teres-me posto á prova desta maneira, eu desconheceria para sempre todas as qualidades que eu aqui adquiri, eu desconheceria para sempre provavelmente, que sou capaz de o amar eternamente, mesmo com o medo de o perder fisicamente, eu sei, hoje, que o amarei para sempre...

Sabes? Hoje ele está aqui, hoje ele está bem, hoje ele riu, abraçou-me, beijou-me, e dormiu toda a noite a respirar ao meu ouvido. Foi tão bom. É sempre tão bom. 

Por hoje eu agradeço-te, por hoje tu mostraste-me que os meus medos não passam disso, e nada do que temo está a acontecer...
Por hoje, Obrigada.
Por tudo, Obrigada, não fazes ideia do filho maravilhoso que eu tenho, e mais, do privilégio que é.
Serei sempre a mãe deste ser incrível, já viste? Que orgulho.

Com amor, 
A MÃE DO DUARTE

sexta-feira, 4 de março de 2016

Saudade de mim, esperança em nós






















Hoje lembrei-me de quando eras saudável, da sorte que tínhamos, tínhamos tudo e julgávamos nada ter...

Hoje lembrei-me do primeiro dia que te vi, os olhos de azeitona abertos e espertos, senti naquele momento que eras sem dúvida um ser muito especial...

Cada dia mais me apetece não falar do que se está a passar, como se não falando as coisas fossem ficando mais "leves" em mim.
Tenho saudades de mim.
Tenho saudades da rotina (aquela que eu sempre detestei ter), mas que a impermanência da vida me mostrou que ela faz falta, tanto faz que sentimos falta dela.
Tenho saudades de arrumar as malas, e com elas arrumar a possibilidade de aqui voltar.
A nossa vida mudou e eu sempre tive uma grande capacidade de encaixe, mas na verdade sinto saudades de algumas pequenas coisas que neste momento valem muito.
Tenho saudades de ser eu.
Tenho saudades de ser a mãe do bebé que vai á creche, que toma banho na banheira, que tem sempre apetite...
Tenho saudades de ser a mãe que faz a sopa e prepara os pratinhos para alimentar a família...
Tenho saudades de ir ao supermercado, sem me preocupar com neutrófilos e leucócitos...
Neste momento estamos isolados (aliás o Duarte está isolado), mas na verdade estamos todos...
Hoje vesti verde, nem a propósito escrevi este texto no dia que vesti verde... a cor da esperança...
A esperança de que um dia, vá levar o meu filho á escola...
A esperança que um dia, ele coma com vontade...
A esperança que o nosso quadro perfeito  surgirá um dia...
A esperança que seremos ainda mais felizes...
Esperança que a saudade do que fomos seja o presente do que queremos ser...
Esperança aquela que nos move aqui...
Essa eu não perco, essa ninguém deve perder, seja qual for a situação, ela dá-nos força e determinação.
E o meu filho mostra-me todos os dias que essa eu não posso perder.

Com amor,
A MÃE DO DUARTE

quinta-feira, 3 de março de 2016

Ás mães do IPO





















Ás mães do IPO, porque são lindas  por baixo de todo o desgaste e dor que carregam...
Às mães do IPO, pelas noites mal dormidas e por aquelas simplesmente não dormidas...
A elas, a nós, por toda a força que diariamente demonstram..

Podia dizer que não observo e que tudo o que se passa nestes corredores me passa ao lado, mas não é verdade, aliás, é quase impossível não observar a força feminina nestes corredores, depois de lhes tirarem o chão, depois de lhes terem alterado a vida por completo, depois da luz das suas vidas estarem num hospital com cancro, depois de tudo o que se passa de hora a hora, de minuto a minuto...

Elas andam no corredor com um ar atarefado, vão buscar comida a toda a hora, tudo o que as crias desejam, apenas mais uma tentativa para que eles comam...
Elas andam no corredor sempre a empurrar o "bobby" como aqui é chamado...
Elas ficam fechadas no quarto o tempo que for preciso...

Elas são umas verdadeiras leoas, sempre preocupadas em fazer o que podem e não podem para que as suas crias tenham tudo o que precisam, ou que querem, para que nem que seja  só por um bocadinho fiquem mais felizes ainda ou mais aliviados.

Eles perdem identidade: "mãe do Duarte, precisa de alguma coisa?" ; "mãe da .... o que ela comeu hoje?".
Falando nisso aproveito para vos explicar o porquê do blog ter este nome, é exactamente por isso, desde que estamos "nesta vida nova", muito raramente eu sou a Cláudia, passei apenas e somente a mãe do Duarte, e é verdade, nós somos somente as mães, e tudo o que esse nome designa, somos as mamãs, somos enfermeiras, somos amigas, somos o colinho que acalma , a voz que consola, e temos também aquela característica tão importante, os olhos de mãe, esses sim vêm o que mais ninguém vê, esses.sim, muitas vezes caracterizados como exagerados, mas que na verdade, têm sempre razão.

Cada uma á sua maneira acredito que cada uma de nós faz o melhor que sabe e pode.
Muitas vezes deixando de pensar nelas próprias, muitas vezes destruidas por dentro conseguem não o demonstrar, conseguem carregar todo medo, a dor, a ansiedade, e ainda toda a fé que um dia tudo acabará bem, e que todo este processo só irá contribuir para que sejamos todas pessoas melhores, porque quem aqui passa não sai daqui igual.

Para elas, para mim, para nós...
Por eles, pelo Duarte, por nós que aqui estamos todos, em muitos casos 24 sobre 24h...

Que Deus abençoe todas estas mães incríveis e incansáveis que aqui estão nesta que não é uma corrida de 100 metros, mas sim uma maratona, com muitos altos e baixos.
Que elas continuem com a mesma força e.determinação que as caracteriza.
E que no fim de tudo saibam, que depois disto, serão capazes de TUDO!

Com amor,
A MÃE DO DUARTE