domingo, 22 de maio de 2016

Para ti meu querido filho...













É neste domingo de Sol que te escrevo...

Lá fora está lindo, era um daqueles dias em que possivelmente iríamos os dois passear pelas ruas de Carcavelos, possivelmente ao jardim dos patinhos ou ao mercado comprar legumes, desculpa-me a minha falta de criatividade nos passeios, mas gostávamos tanto os dois, não era?

Sei que desse outro mundo onde te encontras me sentes, tal como te sinto a ti...
Desculpa-me as horas em que a saudade se apodera de mim, e me vês frágil, na verdade deves pensar que nunca foi isso que te ensinei e mostrei nestes tempos que estiveste ao meu lado aqui na terra...
Eu sei que só tu me compreendes, porque só eu e tu é que sabíamos este Amor, que ultrapassa qualquer partida física, mas que ao mesmo tempo era tão carnal.


Em mim está outro Ser, outra Vida, outro coração que bate... No fundo faz-me reviver tudo o que sentia quando o teu coração batia em mim...
Agradeço-te com a minha Alma, não me teres deixado sozinha...
E a cada minuto me fazeres ver que apesar da tua ausência física, estás sempre em mim e comigo...

Como sabes os últimos dias não têm sido fáceis para a Mãe o tempo passa e a saudade aumenta, e na verdade só queria que a nossa vida tivesse sido mais fácil.

Sabes? Quando penso que tudo poderia ter sido diferente, há uma voz em mim que me diz que te cumpriste na tua vida, e que eu como tua Mãe me cumpri também até ao teu ultimo batimento - Talvez essa voz calada sejas tu...

Quando nasceste havia algo em mim que não me deixava "emprestar-te",não me perguntes porquê mas bem te lembras desse apego, eu sei. Na verdade o meu coração protector sabia que ninguém te amava como eu, e que ninguém te iria "pegar" como eu. Eras meu.
E quando era hora de alguém te "pegar", o meu coração apertava, e só queria que fosse rápido para regressares ao meu colo.
Sempre fomos tão carnais.
Havia algo em mim que me mostrava que tinha que te mimar a cada segundo, havia algo em mim que não me deixava "emprestar-te".


Naquele dia 4 de Abril houve algo de mim que foi contigo.
Naquele dia 4 de Abril, houve uma dor inexplicável, que as minhas palavras, as minhas letras não sabem dizer ou escrever... Mas ao mesmo tempo, uma sensação incrível.
Como se soubesse que a tua missão acabava ali, e a minha continuava pela vida fora, mas com uma visão completamente diferente.



Aquele meu apego que não me deixava ficar tranquila quando ias para a creche, aquele meu sentimento sempre protector e agarrado a ti, aquele sentimento de não te querer "emprestar" nunca...
Mudou! Tive que te deixar partir... Tive que te entregar... Porque tu sentis-te que era a tua hora.
Não me resta mais nada do que respeitar a tua partida...
Honrar-te a toda a hora, por tudo o que me ensinaste...
Agradecer-te a cada segundo teres-me ensinado o Amor... Teres-me feito tão feliz.


A nossa vida podia ter sido diferente... Hoje podíamos passear nos patinhos e aproveitar o Sol.
Mas não seriamos certamente tão iluminados como somos.


Hoje escrevo-te, com saudade, essa que nunca passa.
Hoje dói-me a tua ausência.
Mas estou eternamente grata por ser tua Mãe!
Faria tudo de novo, igual.


Recebe este amor e gratidão enorme que sentirei sempre por ti...


Hoje com Saudade,
A Mãe do Duarte