É
neste domingo de Sol que te escrevo...
Lá
fora está lindo, era um daqueles dias em que possivelmente iríamos
os dois passear pelas ruas de Carcavelos, possivelmente ao jardim dos
patinhos ou ao mercado comprar legumes, desculpa-me a minha falta de
criatividade nos passeios, mas gostávamos tanto os dois, não era?
Sei
que desse outro mundo onde te encontras me sentes, tal como te sinto
a ti...
Desculpa-me
as horas em que a saudade se apodera de mim, e me vês frágil, na
verdade deves pensar que nunca foi isso que te ensinei e mostrei
nestes tempos que estiveste ao meu lado aqui na terra...
Eu
sei que só tu me compreendes, porque só eu e tu é que sabíamos
este Amor, que ultrapassa qualquer partida física, mas que ao mesmo
tempo era tão carnal.
Em
mim está outro Ser, outra Vida, outro coração que bate... No fundo
faz-me reviver tudo o que sentia quando o teu coração batia em
mim...
Agradeço-te
com a minha Alma, não me teres deixado sozinha...
E a
cada minuto me fazeres ver que apesar da tua ausência física, estás
sempre em mim e comigo...
Como
sabes os últimos dias não têm sido fáceis para a Mãe o tempo
passa e a saudade aumenta, e na verdade só queria que a nossa vida
tivesse sido mais fácil.
Sabes?
Quando penso que tudo poderia ter sido diferente, há uma voz em mim
que me diz que te cumpriste na tua vida, e que eu como tua Mãe me
cumpri também até ao teu ultimo batimento - Talvez essa voz calada
sejas tu...
Quando
nasceste havia algo em mim que não me deixava "emprestar-te",não
me perguntes porquê mas bem te lembras desse apego, eu sei. Na
verdade o meu coração protector sabia que ninguém te amava como
eu, e que ninguém te iria "pegar" como eu. Eras meu.
E
quando era hora de alguém te "pegar", o meu coração
apertava, e só queria que fosse rápido para regressares ao meu
colo.
Sempre
fomos tão carnais.
Havia
algo em mim que me mostrava que tinha que te mimar a cada segundo,
havia algo em mim que não me deixava "emprestar-te".
Naquele
dia 4 de Abril houve algo de mim que foi contigo.
Naquele
dia 4 de Abril, houve uma dor inexplicável, que as minhas palavras,
as minhas letras não sabem dizer ou escrever... Mas ao mesmo tempo,
uma sensação incrível.
Como
se soubesse que a tua missão acabava ali, e a minha continuava pela
vida fora, mas com uma visão completamente diferente.
Aquele
meu apego que não me deixava ficar tranquila quando ias para a
creche, aquele meu sentimento sempre protector e agarrado a ti,
aquele sentimento de não te querer "emprestar" nunca...
Mudou!
Tive que te deixar partir... Tive que te entregar... Porque tu
sentis-te que era a tua hora.
Não
me resta mais nada do que respeitar a tua partida...
Honrar-te
a toda a hora, por tudo o que me ensinaste...
Agradecer-te
a cada segundo teres-me ensinado o Amor... Teres-me feito tão feliz.
A
nossa vida podia ter sido diferente... Hoje podíamos passear nos
patinhos e aproveitar o Sol.
Mas
não seriamos certamente tão iluminados como somos.
Hoje
escrevo-te, com saudade, essa que nunca passa.
Hoje
dói-me a tua ausência.
Mas
estou eternamente grata por ser tua Mãe!
Faria
tudo de novo, igual.
Recebe
este amor e gratidão enorme que sentirei sempre por ti...
Hoje
com Saudade,
A
Mãe do Duarte