quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Sobre o Natal














Querido filho, este foi o nosso primeiro Natal sem a tua presença física...
Admito que o temi muito tempo antes do dia, temi não aguentar.

Senti tanto a tua falta...
As palavras faltam quando se fala de Saudade, principalmente quando quero descrever as saudades que sinto do teu cheiro, do teu miminho, do teu corpinho,

Imaginei-te a abrir os presentes, bem sei que o Natal não são prendas, mas a verdade é que adorava ter-te visto a rasgar os embrulhos, a verdade é que queria ver isso... A verdade é que queria-te vestir a combinar com a mana e com o primo, a verdade é que queria ter-te naquela mesa, a verdade é que adorava ter-te comprado imensas prendas.

Tentei até ao dia evitar, imaginar que não era Natal, mas era inevitável esse dia ia chegar, e eu mais uma vez ia ter que colocar a mascara do "está tudo bem" e tentar levar as coisas com normalidade, por nós, pela mana, pelo Xixo, por todos.

Consegui sentir-te, como consigo todos os dias...

Ao mesmo tempo senti a união de toda a nossa família, estou muito grata por isso, e sei que tu tiveste influencia nisso, tu unis-te a nossa família, tu mostras-te o quanto conseguíamos ser unidos e apenas, AMAR.   

Filho, fizeste-me tanta falta...
Fazes-me tanta falta...
Como estarias agora?
Como ias reagir a ver a vovó vestida de mãe Natal?
E o Xixo a desmanchar a árvore ao tio João...
Como ias reagir a ver a mana nas maminhas da mamã?

É inevitável não consegui não imaginar tudo isso...

Ao mesmo tempo sei que estás sempre em nós, sei que nos vês, e sei que nos Amas assim como nós te amamos a ti.

Obrigada por teres ajudado a mamã.

Não te esqueço, NUNCA.

AMO-TE Fíinho.

Com amor,

A mãe do Duarte

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eu não perdi um filho


Hoje apetece-me partilhar convosco um bocadinho daquilo que vai cá dentro, só uma parte, talvez a menor parte de toda a dor que é "perder um filho".
Sim também eu já usei esse termo, talvez todos os dias em que tenho que explicar e responder a perguntas que apertam o coração, apertam só de saber que vou ter que responder:
"Quantos filhos tem?"
"O agregado familiar é constituído por quantos membros?".
Perguntas tão simples, mas que tiram noites de sono, tiram sanidade, e relembram a realidade, na sua mais dura e crua forma. 

Eu não perdi o meu filho, uma mãe nunca perde um filho apartir do momento que o ame...
Eu não perdi o Duarte, ganhei-o de uma forma diferente...

Um filho não se perde. Jamais.
Eu digo que perdi um anel, eu digo que perdi a minha chave de casa, eu digo que perdi o meu telemóvel.
Jamais um filho... 
Um filho não se perde, um filho é para a vida, tenha essa vida o tempo que tiver, e quanto tempo tiver a minha vida, ele fará parte dela.

Sei que é difícil e constrangedor também para as outras pessoas lidarem connosco, e apartir do momento em que "perdemos um filho" ganhamos esse rótulo, e passamos a ser como se uns bichos intocáveis.
Constantemente são arranjadas palavras de conforto, ou não palavras também de conforto.
Constantemente desejamos que o nosso filho seja falado, convidado, seja acolhido como fazendo ainda parte de nós, a questão é que se faz o contrário com medo, que seja duro para nós.
Duro é não podermos mostrar a foto do segundo aniversário...
Duro é não poder imprimir a foto do nosso filho com o pai natal, e não poder contar como foi a sua reacção...
Duro é aceitar que morreu.
Duro é acharmos que só em nós é que ele ainda vive. 

Eu não perdi um filho, e pf não me digam para o deixar partir...
Serei obrigada a perguntar como é que se deixa um filho partir? 
Essa frase poderia ser enquadrada num cenário físico, como deixá-lo ir na carrinha da escola, como colocá-lo no comboio para ir visitar um amiguinho, algum cenário onde houvesse alternativa.  
Se eu tivesse que escolher tê-lo-ia aqui, bem perto do aquecedor, de banho tomado, alimentado e quentinho, a ver o canal panda e a receber amor. Isso não é possivel.
Mas é possivel e inevitável  tê-lo em mim, por isso, eu não perdi um filho, nem o vou deixar partir. 

Deixá-lo partir, perdê-lo é deixar de existir em mim a parte que ainda resta.
Eu não o perdi, eu perdi uma parte de mim, isso sim.

Regresso dia 8 se conseguir... 

Com amor,
A mãe do Duarte

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Ajudas a mamã?




















Meu querido e sempre amado filho,

Hoje escrevo-te com a maninha ao meu lado...
Só tu sabes a influência que tiveste no seu nascimento, parece que sabias já que aquele dia ia chegar, e talvez soubesses, eras um ser muito iluminado e diferente.
Sabes? Por vezes olho a mana, e observo os seus movimentos, como é uma benção não me teres deixado sozinha e vazia, tu sabias que eu não ia aguentar, tu sabias...
Só nós sabemos o nosso amor, e só nós sabemos que este nunca acaba... 
Admito que anseio o dia em que seja possível ver-te de novo, não sei se isso é possível, mas farei tudo durante a minha vida na terra para ter um lugar no céu bem junto a ti... 
Não consigo arranjar palavras para as saudades que sinto, a angustia de não te ver crescer é dolorosa, que faz um aperto tão grande que não dá para explicar.
Quero-te também agradecer por estares ao meu lado sempre que preciso, e por sentir o teu amor em todos os segundos.
Desculpa-me se sou chata, desculpa-me estar sempre a falar contigo e a pedir-te que me ajudes nesta dor que sufoca a mãe... mas tu sabes, as saudades são cada vez maiores, espero que aí nesse lugar onde estás não as sintas, porque estás sempre no meu coração e no meu pensamento. 
Sobre o dia 8, farias 2 aninhos... ainda nem quero falar sobre essa data: Ajudas-me mais uma vez a superá-la?

Filho?! AMO-TE TANTO MEU AMOR !  

Com amor e para sempre,
A Mãe do Duarte

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

E assim passou um ano...

Vida que me pedes mais do que consigo...


Vida que não paras, mas devias parar e voltar atrás... por mais um minuto que seja.
Faz amanhã um ano que tudo começou...
Faz um ano que a minha vida mudou, e que me confrontei com o diagnóstico do meu filho.
Hoje não há forças para nada...
Há dias que me questiono a mim própria se serei capaz de viver assim, literalmente "amputada" ...

As memorias teimam em andar aqui, as saudades essas só aumentam.
E a vida? Essa não pára.
A cabeça dói, a barriga dói, o estômago não pára... É mesmo verdade que o corpo fala, e o meu não se cala.
O meu grita de Saudades, grita de medo e angustia.
O meu não tem energia.

Como se vive sem ver um filho crescer?

Quero lutar pela vida assim como o meu filho lutou... Não quero desistir, não quero parar, não quero que a dor me defina.
Vida, deixa-me definir eu a minha dor.
Vida, deixa os meus olhos rirem novamente...
Deixa o meu coração Amar sem medo, e caminhar nesta realidade que é a minha.

Há uma coisa que nunca mais fiz da mesma forma e que fazia constantemente, não fosse eu a pessoa mais vaidosa que conhecia: ver-me ao espelho!
Hoje vejo, olho para mim mas desvio o olhar, talvez com medo de ver a minha alma, talvez.
Ou talvez com medo das memórias que o meu corpo me trás.

Hoje, amanhã e sempre terei saudades...
Hoje, amanhã e sempre vou sentir a tua falta.

Um beijinho na tua alma com muito muito amor,
A tua mamã. A mãe do Duarte

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Meu querido Outono (onde começam as recordações)





Querido outono...


Que o ano passado me deste o que iria ser futuramente uma grande batalha e lição de vida, o diagnóstico de um filho saudável, cheio de vida, que agradecia a Deus todos os dias essa vivacidade e saúde.
E de um dia para o outro vi-me perante o primeiro luto da minha vida, o luto do meu filho saudável, para começar a lidar com o mesmo meu filho, mas doente, mais frágil, ainda mais dependente...
A dor dele seria a minha a partir desse dia, desejava ser eu, desejava acordar daquele pesadelo, ou adormecer para sempre lado a lado com o meu filho.


O dia que era frio e chuvoso deixou de se fazer sentir no meu corpo. Pergunto-me hoje como uma situação poderá tirar de nós qualquer sensibilidade, mas a verdade é que fisicamente eu não sentia nada, não tinha frio, não tinha fome, não tinha sede, só identifico uma coisa naquele momento: Medo, muito medo... conheci-o de perto, e até hoje ele não me largou.
Outono que alteraste a minha vida, o meu ser.
Outono frio, que levaste o meu filho saudável...
Só desejo que que este ano o nosso Outono seja abençoado com uma nova vida, a vida daquela que lado a lado com o seu irmão guiará o meu caminho.


Outono frio, torna o meu coração mais quente este ano, e o medo que me apresentaste o ano passado, deixa-o aqui, mas não deixes que ele tome conta de mim e me descontrole.


Este ano em que faço o segundo maior luto da minha vida, o luto de não ter fisicamente o meu filho comigo, o luto crónico acompanhado de um amor imenso que não passa, não passará e que faço tudo para que não passe.
As imagens boas que á meses acompanham os meus dias, noites, horas e minutos.. As imagens desgastadas que andam tanto em mim que tenho receio que desapareçam.
É parvo? Sim poderá ser.
Mas é a verdade, a verdade daqueles que lidam com o amor sem ver quem amam.


Oh outono.... oh vida.... oh justiça...
Justiça, sim:
Partilho convosco a minha vontade durante alguns anos, em que dizia que gostaria de me formar em direito, que me fascinava lidar com justiça.
Confronto-me hoje com o doutoramento da vida, aprender a viver, reaprender a viver, e saber que por mais que Deus me tenha levado o meu bem maior, me vai dar este Outono a benção de amar igualmente um ser que me veio dar vontade de continuar...
Quando digo que a vida foi injusta comigo, lembro-me que no meio de tanta dor cresce em mim a justiça divina e inexplicável, um novo ser, que não será meu, mas terá certamente a outra parte de mim, aquela que não está algures pelo céu.
Querido Outono abraça a dor das minhas memórias, e permite que elas se tornem mais suportáveis...
Abraça e recebe a minha filha, e permite-me amá-la genuinamente sem que o medo tome conta de mim...
Querido Outono não leves as minhas memórias, deixa-as no meu coração e faz com que sejam eternas em mim.
Querida vida que me obrigas a crescer diariamente, que me fazes conhecer todos os sentimentos num só dia...
Que o amor seja eterno em nós e que caiba todo no nosso coração para sempre.
Que este seja suficientemente grande para atravessar a atrocidades da vida e chegue á alma dos meus filhos.
Que ele seja suficientemente válido para que a luz que acendo diariamente ao meu filho, chegue a ele a mim e a todos aqueles que sofrem...
Que a saudade não seja maior que ele.
Sim, porque uma coisa eu sei, ele viverá sempre em mim de uma forma pura e genuína.
Afinal o amor por um filho não morre, nunca.



Com amor,
A Mãe do Duarte

domingo, 21 de agosto de 2016

Coisas que aprendi sobre o Luto


Desde sempre, desde miúda mesmo, recordo-me de ter imenso medo da morte, medo de morrer, medo de perder a minha mãe, a minha avó... 
Lembro-me que quando a minha mãe falava nisso imediatamente eu pedia para falarmos noutra coisa que não queria falar disso... Nem nunca tive curiosidade sobre o tema, sentia que podia ir adiado aquela conversa, aquele sentimento, mesmo que fosse só um "supúnhamos".

Até ao dia que me confrontei com a realidade e percebi que ia ter que lidar com a partida física, nada mais nada menos do que de um FILHO. 
Haverá maior provação e aprendizagem na vida? Não creio. 

Cada um com a "sua cruz" como se diz, e na verdade durante todo o processo no IPO com o Duarte, cada vez que á minha volta tinha conhecimento de que mais um/a menino/a tinha partido, na minha cabeça só soava uma pergunta: - "Meu Deus! Como estará aquela Mãe?!".

Aquele medo existia em mim a cada segundo, mas tentei viver cada momento, e pensar que se aquela situação não estava a acontecer comigo, não precisava de estar a pensar nela, e assim foi, cada vez que me vinham aqueles medos, tentava pensar assim e ao mesmo tempo, pedia a Deus para que de certa forma "aconchegasse o coração daquela Mãe" - Hoje sei que isso é impossível, porque nada aconchega um coração de uma Mãe que acaba de perder o seu filho, então hoje eu SEI, APRENDI, e infelizmente não LI, mas VIVO e por isso posso dizer que sei algumas coisas sobre o LUTO (pelo menos sobre o meu LUTO) : 

Primeiro:  Sei que o Luto não é uma doença, nem um processo escrito nos livros de psicologia e dividido em fases... Muito menos toda a gente o vive da mesma forma. 

Na verdade gostava de perceber o que é o Luto na realidade:

Uma patologia? Não creio, mas já senti que por vezes me deixa fisicamente doente.
Um estado? Como um estado, se por vezes no meio desse estado de dor e angustia porfunda eu consigo sorrir e sentir-me bem?!
Não será uma fase concerteza porque não acredito que algum dia deixarei de chorar o meu filho, porque chorar faz parte, é como rir... Então uma das outras coisas que aprendi sobre o luto é que não temos que nos colar a essa palavra, nem aos timmings que a psicologia estipula para ela. 

Aprendi então que viveremos eternamente com a Saudade, só quem não se permite amar, não se permite sofrer e sentir saudade .. Uma vez que amamos (na sua essência e verdadeira forma), estamos prontos para chorar a saudade e o apego ao corpo físico. 

Outra das coisas que hoje sei é que todos os problemas e obstáculos são sempre inferiores ao que sentimos, mas ao mesmo tempo, sentimos que não somos merecedores de tantos desafios, e que a vida por vezes se torna injusta. 

Sabemos todo o que nos dizem, e há dias em que isso consola mesmo, mas outros em que pensamos naquela maior asneira que sabemos dizer, e dizemos bem alto, juntando a revolta de não percebermos o motivo pelo qual nos está a acontecer tais provações. 

De certeza que todas as pessoas que perderam alguém que amam muito, principalmente nós que perdemos um FILHO, porque é só disso que sei falar, no fundo não posso falar do que sente o outro, eu sei o que EU sinto apenas... de certeza, que algures em qualquer conversa ou pensamento, vocês ouviram algo como: -  "Ele está sempre contigo". 
Que bom ouvir isso, ás vezes. Outras não, sabem porquê?! Porque eu não o vejo, e eu queria era vê-lo agora, só isso. É por isso que vem a Saudade porque Amor, esse eu tenho e terei sempre... Eu por ele e ele por mim. 

Mas a Saudade essa vem daquele lado do Amor mais físico, mais carnal, essa vem do cheiro, vem do movimento, da VIDA em VIDA, da presença á mesa, do entregar um presente, comprar um presente, é aí que vem o LUTO... A Saudade de verdade. 

Aprendi mais uma coisa sobre o LUTO, não há horas, não há minutos, não há segundos: Ora estamos muito bem, ora vem uma conversa, um cheiro, uma lembrança, coisas tão simples, mas que fazem as lágrimas caírem no rosto.
Partilho convosco: Ontem vinha de regresso a casa, senti que as lágrimas me caíram do rosto, frias, geladas, como se o meu coração estivesse assim, gelado. Elas apenas caíram, e eu só pedia para que o J me deixasse ir assim, e não me questionasse em relação a nada... Elas queriam sair, assim como o Duarte quis sair de mim naquele inverno de 2014, era inevitável... 

Tudo é inevitável quando tem realmente que acontecer. 

E o luto é isso, inevitável, essencial, e próprio de cada um. 
Um beijinho com amor.

Para SEMPRE, 
A Mãe do Duarte 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Para todas as mães que vão sempre ser mães...


Para todas as mães que vão sempre ser mães...

Aquelas mães que sentem saudade a cada segundo, essa sou eu... são tantas outras, obrigadas a "viver" depois de lhes tirarem a "vida".

Aquelas confrontadas com a dura realidade, os milagres acontecem, e sermos mães de seres tão especiais é também um milagre...

Somos mães de seres, que um dia vimos, que um dia estiveram no nosso ventre, que um dia achámos que jamais iriamos viver sem eles... 

Somos mães obrigadas a ser iguais, mesmo quando tudo é diferente...

Somos mães que amam os seus filhos desde que viram o teste de gravidez positivo, até sempre...

Não se é MÃE até ao dia que eles partem... seremos sempre mães. 
Somos mães com coração para amar..
.
Somos mães com boca para sorrir, e sorrimos, mesmo quando por dentro a saudade chora, e o orgulho neles, esse... permanece. Mesmo quando no jardim vemos outros meninos a brincar e pensamos como seria bom serem eles ali a brincar... mesmo assim, temos orgulho no que os nossos filhos foram, e são.

Somos guerreiras, que não foram á guerra... porque lutar pelos nossos filhos não é uma batalha é intrínseco, é instinto se quiserem...

Temos medos, sempre tivemos, umas vezes mais que outras... 
Mas tivemos um medo a certa altura, medo de os perder... mesmo que seja impossível perder alguém que está sempre no nosso coração, isto é algo que sempre soubemos, mas nunca quisemos saber.

Dizia eu noutro texto que escrevia para as mães, que algures no tempo passaram pelo IPO: 
"depois disto seremos capazes de tudo", mantenho.

Depois de o meu filho partir, do seu corpo parar, a sua vitalidade se despedir e depois da sua alma ir para outro plano, depois, entenda-se: hoje... hoje sou capaz de suportar tudo, porque suporto todos os dias a dor que é a sua ausência física.

Hoje sei, não o perdi... porque o amor não se perde. Só não posso demonstrar o meu amor da mesma maneira que o fazia.

Já dizia Einstein:

"Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre. "

E sermos mães de seres tão especiais é sem duvida um milagre...

E sabermos o amor verdadeiro é algo que nunca, jamais, ninguém pode levar.

Obrigada meu filho.
Com amor,
A Mãe do Duarte

sexta-feira, 24 de junho de 2016

"Morrer é só não ser visto" - MAS EU TENHO SAUDADES DE TE VER!!!















Hoje é dia 24 de Junho, passaram quase três meses desde que o teu corpo nos deixou, e a tua alma foi para uma dimensão que todos desconhecemos.
Beijinho da mamã que te ama, todos os dias.


Existe uma Saudade permanente que me acompanha diariamente, segundo a segundo.
Tenho várias questões presentes em mim, e uma que me acompanha:
"Como pode uma mãe viver sem um filho?"

Não existe segundo em cada dia que não estejas no meu coração e não existe sol nos dias de calor.
Sei que hoje estás mais presente do que poderias estar mesmo que aqui estivesses, mas faz-me falta a felicidade que juntos vivíamos.

Já algumas vezes me questionei, se algum dia voltarei a ser realmente feliz, sem uma parte de mim.

Os dias vivem-se, e passam uns atrás dos outros a uma velocidade que nem me apetece contar.
As horas passam, os minutos voam, mas o meu pensamento permanece: Sinto a tua falta, sempre!

Guardo em mim todas as memórias, e tudo se traduz a recordações, a fotos.
Só queria mais uma.

Só queria mais uma foto.
Só queria mais um beijo...
Só queria mais um miminho...

"Morrer é só não ser visto"

Mas eu tenho saudades de te ver.


Vamos encontrar-nos de novo eu sei.

Beijinho de Esquimó,
A Mãe do Duarte

terça-feira, 31 de maio de 2016

Feliz Dia dos Maninhos "Hoje falei-lhe do mano"












Hoje dia dos irmãos, falei de ti ao mano bebé...
Ainda não sabemos se é um feijão ou uma "feijoa", mas como sabes para nós pouco importa, queremos que venha saudável que seja sempre feliz como sempre foste.

Falei-lhe de ti, contei-lhe que tinha um mano e que hoje era o vosso dia.
Falei-lhe de ti, e pedi-lhe perdão por não conseguir ainda ligar-me a ele como queria, e como estava ligada a ti no inicio. 

Na verdade sabem os dois que a Mãe tem saudades, uma saudade que me enche o coração, tal como o amor por vocês enche. 

Hoje falei-lhe de ti, disse que ele iria ser sempre amado como tu foste, e disse-lhe que tu estavas sempre no céu a olhar por ele, e que para sempre ele ia ter um anjinho amigo "só dele", que é o mano.

Na verdade desejei também que neste dia dos "maninhos" estivéssemos aqui os quatro, quatro corações a bater nesta casa... Era o que mais desejava. 
A vida não quis assim, e no fundo  meu coração de Mãe estará sempre cheio de Amor, pelos dois.

Tenho saudades bebé do céu...

AMO-TE.

Beijinhos de amor meus e do mano,
A Mãe do Duarte



Deixo-te uma foto em modo forninho dos dois, em cima tu e em baixo o maninho/a. 




domingo, 22 de maio de 2016

Para ti meu querido filho...













É neste domingo de Sol que te escrevo...

Lá fora está lindo, era um daqueles dias em que possivelmente iríamos os dois passear pelas ruas de Carcavelos, possivelmente ao jardim dos patinhos ou ao mercado comprar legumes, desculpa-me a minha falta de criatividade nos passeios, mas gostávamos tanto os dois, não era?

Sei que desse outro mundo onde te encontras me sentes, tal como te sinto a ti...
Desculpa-me as horas em que a saudade se apodera de mim, e me vês frágil, na verdade deves pensar que nunca foi isso que te ensinei e mostrei nestes tempos que estiveste ao meu lado aqui na terra...
Eu sei que só tu me compreendes, porque só eu e tu é que sabíamos este Amor, que ultrapassa qualquer partida física, mas que ao mesmo tempo era tão carnal.


Em mim está outro Ser, outra Vida, outro coração que bate... No fundo faz-me reviver tudo o que sentia quando o teu coração batia em mim...
Agradeço-te com a minha Alma, não me teres deixado sozinha...
E a cada minuto me fazeres ver que apesar da tua ausência física, estás sempre em mim e comigo...

Como sabes os últimos dias não têm sido fáceis para a Mãe o tempo passa e a saudade aumenta, e na verdade só queria que a nossa vida tivesse sido mais fácil.

Sabes? Quando penso que tudo poderia ter sido diferente, há uma voz em mim que me diz que te cumpriste na tua vida, e que eu como tua Mãe me cumpri também até ao teu ultimo batimento - Talvez essa voz calada sejas tu...

Quando nasceste havia algo em mim que não me deixava "emprestar-te",não me perguntes porquê mas bem te lembras desse apego, eu sei. Na verdade o meu coração protector sabia que ninguém te amava como eu, e que ninguém te iria "pegar" como eu. Eras meu.
E quando era hora de alguém te "pegar", o meu coração apertava, e só queria que fosse rápido para regressares ao meu colo.
Sempre fomos tão carnais.
Havia algo em mim que me mostrava que tinha que te mimar a cada segundo, havia algo em mim que não me deixava "emprestar-te".


Naquele dia 4 de Abril houve algo de mim que foi contigo.
Naquele dia 4 de Abril, houve uma dor inexplicável, que as minhas palavras, as minhas letras não sabem dizer ou escrever... Mas ao mesmo tempo, uma sensação incrível.
Como se soubesse que a tua missão acabava ali, e a minha continuava pela vida fora, mas com uma visão completamente diferente.



Aquele meu apego que não me deixava ficar tranquila quando ias para a creche, aquele meu sentimento sempre protector e agarrado a ti, aquele sentimento de não te querer "emprestar" nunca...
Mudou! Tive que te deixar partir... Tive que te entregar... Porque tu sentis-te que era a tua hora.
Não me resta mais nada do que respeitar a tua partida...
Honrar-te a toda a hora, por tudo o que me ensinaste...
Agradecer-te a cada segundo teres-me ensinado o Amor... Teres-me feito tão feliz.


A nossa vida podia ter sido diferente... Hoje podíamos passear nos patinhos e aproveitar o Sol.
Mas não seriamos certamente tão iluminados como somos.


Hoje escrevo-te, com saudade, essa que nunca passa.
Hoje dói-me a tua ausência.
Mas estou eternamente grata por ser tua Mãe!
Faria tudo de novo, igual.


Recebe este amor e gratidão enorme que sentirei sempre por ti...


Hoje com Saudade,
A Mãe do Duarte




terça-feira, 10 de maio de 2016

Para sempre: A MÃE DO DUARTE! O "04-04-2016"
























Existes nos meus sonhos...
Existes nos meus dias...
Existes em mim, a todo o momento...


Dia 4 de Abril de 2016


O teu corpo ficou na terra e a tua alma subiu ao céu..
Um dia "normal", estávamos nos cuidados intensivos pediátricos do Hospital Santa Maria desde Sábado.
Algumas dificuldades em respirar, mas tudo controlado á partida...
O dia foi passando e nós fomos percebendo...
Era aquele o dia que tanto temíamos, senti que não te iria ver mais aqui na terra... e pedi aos céus que não te mantivessem aqui na terra por egoísmo meu, por apego. 
Se fosse aquela a hora, que fosses em paz, sem sofrimento. Não merecias isso. 

Chamei as pessoas mais importantes para nós e na tua vida, não pensei sequer, não foi difícil "escolhê-las" depois daqueles 6 meses a aprender todos os dias... Foi inato em mim, e rápido também... Senti que estávamos todos preparados, e que toda a nossa família padece de um amor incrível que nem a "partida" mata.
A dor da partida era enorme...
As lágrimas caíam, e a dor na alma não ficava em lado nenhum, andava comigo.. A garganta estava seca, e tinha um nó...
Na cabeça anda tudo, e não andava nada...
Mas no coração estava a certeza da frase que partilhei convosco á tempos... "quero salvar o meu filho, ou da doença ou do sofrimento".

No meio de toda a dor que sentia em mim... olhava para ele, falava com ele, e sentia que não era ele, o bebé feliz, cheio de vida, forte...

Deixei de perguntar quais as soluções, tinha chegado a hora, eu tinha que ouvir a verdade, pensei.

Com as lágrimas a escorrer e com o queixo a tremer horrores peguei na mão do ser incrível que acompanhava o Duarte naquele dia, aquela médica, aquele ANJO:

"Dra ele vai partir não vai?"
Olhou para mim, com amor, muito amor mesmo:
"Muito provavelmente mãe"
Chorei, chorei... chorei...
Olhei-a nos olhos, com tanto amor, com tanta admiração, e pedi:
"Pfv como se fosse um dos seus... Ajude-o para que não sofra, e para que este momento seja digno para ele."
Sorriu carinhosamente, e acenou que sim.
Ajudei-o a nascer, fiz tanta força, tive tanta força...
Ajudei-o a partir, estive ao lado dele, fiz tudo para que tivesse uma partida tão digna quanto foi o seu nascimento e a sua vida. No fundo não fiz força, mas ele deu-me força muita força...
Não havia naquele momento epidural para a minha alma de mãe, morfina para a dor das saudades que já existiam em mim.
20:15h
O coraçãozinho dele parou, respirou a ultima vez.
"Vai em paz meu anjo, ajuda a mamã. Amo-te, amo-te, amo-te. Obrigada por tudo meu querido"
A alma dele partiu em paz.

Fica uma saudade enorme, mas a certeza que tenho um filho ANJO, que tenho uma companhia constante e eterna... e que nunca mais nesta vida eu estarei sozinha.

Não tenho palavras para descrever aquela equipa da UCIPed Santa Maria...
O respeito, a dignidade, o carinho, o acompanhamento.
São seres muito iluminados.
Obrigada por tudo!!

Sobre o IPO um dia eu escrevo.

Construi uma família.
Somos muito abençoados por termos conhecido pessoas tão especiais.
Um obrigado especial por aquele sábado a enf. Anabela, foi um anjo.

Na vida aprendemos a amar...

Na partida, percebemos o AMOR na sua verdadeira e pura essência...
Esse não morre!!!

OBRIGADA FAMÍLIA PELO NOSSO AMOR, E UNIÃO!

OBRIGADA FILHO,
OBRIGADA LUZ DA MINHA VIDA!

Para sempre,
A Mãe do Duarte

  

sábado, 26 de março de 2016

Onde há vida, há esperança!















Onde há vida, há esperança... 
E é isso mesmo, o meu filho, tem vida, tem tanta vida nele...
 E nós, nós temos tanta esperança na vida que ele ainda tem. 
Não vos sei explicar o que senti quando me disseram "não há mais nada a fazer"!
Como não há mais nada a fazer? O meu filho tem 15 meses... Tem tanta vida pela frente... Eu quero levá-lo ao primeiro dia de escola, eu quero vê-lo a andar pela primeira vez... Eu quero mais birras, eu preciso de muito mais birras...
Foi um misto de emoções, ao mesmo tempo não o quero sujeitar a mais sofrimento... Mas vejo-me obrigada a parar, quando eu quero é remar pela vida dele. 
O meu mundo desabou, mais do que no dia que me disseram que ele estava doente.
Porque: "Está doente?! Ok ... Vamos tratar.
Não resultou. Ok... Então o que resulta?!"
Há sempre uma batalha dura é verdade, mas há.
Agora não há mais nada a fazer ?! E agora?! O que é suposto eu dizer? Ou fazer? 
Acreditava eu na minha ignorância, que seria capaz de saber parar, na altura certa. Mas hoje sei que dificilmente eu vou conseguir parar.
Acreditava eu que se fosse altura de mostrar ao meu filho tudo e mais alguma coisa (fora do ambiente hospitalar), eu seria capaz de mesmo destruída por dentro, de fazê-lo. 
Mas não sei, na altura talvez saberei. Mas naquele dia eu não soube. 
Naquele dia eu só soube que não o queria perder, e que para mim não era altura para parar. 

Alguém ouviu o meu silêncio, alguém escutou a minha dor, aquela que se via e que toda a gente viu, mas a verdadeira estava na minha alma, que doía como nunca. 

No dia seguinte, há uma esperança, 
É verdade, os médicos não acreditam que o Duarte se consiga curar.
É verdade, nem tudo está a correr como esperávamos...
Mas sabem? O meu coração de mãe, sorriu.

Ainda há alguma coisa a fazer:
O Duarte tem um dador (obrigada a todos os que perdem um pouco do seu tempo para salvar vidas, de outra forma o meu texto seria diferente)
É verdade que não poderá fazer transplante antes de estar em remissão.
Mas ainda há uma esperança.
Vamos fazer um tratamento experimental.
Temos mais uma batalha pela frente.
Temos tempos difíceis (ou menos fáceis) pela frente...
Mas temos vida em nós, temos todos os sonhos do mundo, temos todo o nosso amor e dedicação para lhe dar, todos os dias, e até ao fim.

Uma boa páscoa a todos.

Com amor,
A MÃE DO DUARTE