terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eu não perdi um filho


Hoje apetece-me partilhar convosco um bocadinho daquilo que vai cá dentro, só uma parte, talvez a menor parte de toda a dor que é "perder um filho".
Sim também eu já usei esse termo, talvez todos os dias em que tenho que explicar e responder a perguntas que apertam o coração, apertam só de saber que vou ter que responder:
"Quantos filhos tem?"
"O agregado familiar é constituído por quantos membros?".
Perguntas tão simples, mas que tiram noites de sono, tiram sanidade, e relembram a realidade, na sua mais dura e crua forma. 

Eu não perdi o meu filho, uma mãe nunca perde um filho apartir do momento que o ame...
Eu não perdi o Duarte, ganhei-o de uma forma diferente...

Um filho não se perde. Jamais.
Eu digo que perdi um anel, eu digo que perdi a minha chave de casa, eu digo que perdi o meu telemóvel.
Jamais um filho... 
Um filho não se perde, um filho é para a vida, tenha essa vida o tempo que tiver, e quanto tempo tiver a minha vida, ele fará parte dela.

Sei que é difícil e constrangedor também para as outras pessoas lidarem connosco, e apartir do momento em que "perdemos um filho" ganhamos esse rótulo, e passamos a ser como se uns bichos intocáveis.
Constantemente são arranjadas palavras de conforto, ou não palavras também de conforto.
Constantemente desejamos que o nosso filho seja falado, convidado, seja acolhido como fazendo ainda parte de nós, a questão é que se faz o contrário com medo, que seja duro para nós.
Duro é não podermos mostrar a foto do segundo aniversário...
Duro é não poder imprimir a foto do nosso filho com o pai natal, e não poder contar como foi a sua reacção...
Duro é aceitar que morreu.
Duro é acharmos que só em nós é que ele ainda vive. 

Eu não perdi um filho, e pf não me digam para o deixar partir...
Serei obrigada a perguntar como é que se deixa um filho partir? 
Essa frase poderia ser enquadrada num cenário físico, como deixá-lo ir na carrinha da escola, como colocá-lo no comboio para ir visitar um amiguinho, algum cenário onde houvesse alternativa.  
Se eu tivesse que escolher tê-lo-ia aqui, bem perto do aquecedor, de banho tomado, alimentado e quentinho, a ver o canal panda e a receber amor. Isso não é possivel.
Mas é possivel e inevitável  tê-lo em mim, por isso, eu não perdi um filho, nem o vou deixar partir. 

Deixá-lo partir, perdê-lo é deixar de existir em mim a parte que ainda resta.
Eu não o perdi, eu perdi uma parte de mim, isso sim.

Regresso dia 8 se conseguir... 

Com amor,
A mãe do Duarte