Tenho que admitir: Estou cansada de aqui estar, não é fácil não termos a nossa privacidade, e a nossa "casa" se resumir a um quarto de hospital por tempo indeterminado...
Coisas que não dava valor agora dou: Jantar em casa, por exemplo.
Os dias são longos e as noites trazem escuridão, trazem medos, mas trazem muita introspecção também.
Isto á uns meses era tão longínquo para mim, nunca pensamos conhecer tão de perto a pediatria do IPO, pelo menos neste contexto.
A doença dos nossos filhos é sem dúvida o maior desafio que a vida nos pode dar, destrói qualquer estabilidade. Mas ao mesmo tempo estes momentos difíceis na nossa vida confrontam—nos com a dura realidade que é perceber que aqueles que julgavamos que iram estar sempre ao nosso lado na verdade não estão, ou porque dá trabalho, ou porque é chato, ou tão somente porque "não são capazes de vir aqui".
E se eu não fosse capaz de vir aqui?
A mim ainda mais confusão me deveria fazer, ora, metade das crianças que aqui estão em estados mais, ou menos críticos, não importa, têm o mesmo que o meu filho, ou parecido.
Como seria se eu não fosse capaz?!
Felizmente sou, sempre fui e sempre serei....Capaz!!
Capaz de dar ao meu filho a dignidade que ele merece, e estar com ele onde ele estiver;
Capaz de estar ao lado dele no IPO, com a mesma dignidade e amor que o levarei ao ZOO.
Capaz de olhar para ele, e vê—lo a ele, não importa onde está, é ele.
Mãe é mãe, e eu sou mãe, sou a mãe do Duarte, e não vos faça confusão pfv, ele estar aqui ou em casa, ele ter cabelo ou estar careca.
Ele é o Duarte.
E tenho a certeza que ele é muito feliz, e tem muito amor á sua volta.
Ele não é a Leucemia e os seus efeitos chatos, ele não é mais um menino internado no IPO, ele é o Duarte, e cada um merece individualmente o nosso amor e dignidade.
E quem o ama e o honra, terá para sempre o meu amor.
Com amor,
A MÃE DO DUARTE