domingo, 21 de agosto de 2016

Coisas que aprendi sobre o Luto


Desde sempre, desde miúda mesmo, recordo-me de ter imenso medo da morte, medo de morrer, medo de perder a minha mãe, a minha avó... 
Lembro-me que quando a minha mãe falava nisso imediatamente eu pedia para falarmos noutra coisa que não queria falar disso... Nem nunca tive curiosidade sobre o tema, sentia que podia ir adiado aquela conversa, aquele sentimento, mesmo que fosse só um "supúnhamos".

Até ao dia que me confrontei com a realidade e percebi que ia ter que lidar com a partida física, nada mais nada menos do que de um FILHO. 
Haverá maior provação e aprendizagem na vida? Não creio. 

Cada um com a "sua cruz" como se diz, e na verdade durante todo o processo no IPO com o Duarte, cada vez que á minha volta tinha conhecimento de que mais um/a menino/a tinha partido, na minha cabeça só soava uma pergunta: - "Meu Deus! Como estará aquela Mãe?!".

Aquele medo existia em mim a cada segundo, mas tentei viver cada momento, e pensar que se aquela situação não estava a acontecer comigo, não precisava de estar a pensar nela, e assim foi, cada vez que me vinham aqueles medos, tentava pensar assim e ao mesmo tempo, pedia a Deus para que de certa forma "aconchegasse o coração daquela Mãe" - Hoje sei que isso é impossível, porque nada aconchega um coração de uma Mãe que acaba de perder o seu filho, então hoje eu SEI, APRENDI, e infelizmente não LI, mas VIVO e por isso posso dizer que sei algumas coisas sobre o LUTO (pelo menos sobre o meu LUTO) : 

Primeiro:  Sei que o Luto não é uma doença, nem um processo escrito nos livros de psicologia e dividido em fases... Muito menos toda a gente o vive da mesma forma. 

Na verdade gostava de perceber o que é o Luto na realidade:

Uma patologia? Não creio, mas já senti que por vezes me deixa fisicamente doente.
Um estado? Como um estado, se por vezes no meio desse estado de dor e angustia porfunda eu consigo sorrir e sentir-me bem?!
Não será uma fase concerteza porque não acredito que algum dia deixarei de chorar o meu filho, porque chorar faz parte, é como rir... Então uma das outras coisas que aprendi sobre o luto é que não temos que nos colar a essa palavra, nem aos timmings que a psicologia estipula para ela. 

Aprendi então que viveremos eternamente com a Saudade, só quem não se permite amar, não se permite sofrer e sentir saudade .. Uma vez que amamos (na sua essência e verdadeira forma), estamos prontos para chorar a saudade e o apego ao corpo físico. 

Outra das coisas que hoje sei é que todos os problemas e obstáculos são sempre inferiores ao que sentimos, mas ao mesmo tempo, sentimos que não somos merecedores de tantos desafios, e que a vida por vezes se torna injusta. 

Sabemos todo o que nos dizem, e há dias em que isso consola mesmo, mas outros em que pensamos naquela maior asneira que sabemos dizer, e dizemos bem alto, juntando a revolta de não percebermos o motivo pelo qual nos está a acontecer tais provações. 

De certeza que todas as pessoas que perderam alguém que amam muito, principalmente nós que perdemos um FILHO, porque é só disso que sei falar, no fundo não posso falar do que sente o outro, eu sei o que EU sinto apenas... de certeza, que algures em qualquer conversa ou pensamento, vocês ouviram algo como: -  "Ele está sempre contigo". 
Que bom ouvir isso, ás vezes. Outras não, sabem porquê?! Porque eu não o vejo, e eu queria era vê-lo agora, só isso. É por isso que vem a Saudade porque Amor, esse eu tenho e terei sempre... Eu por ele e ele por mim. 

Mas a Saudade essa vem daquele lado do Amor mais físico, mais carnal, essa vem do cheiro, vem do movimento, da VIDA em VIDA, da presença á mesa, do entregar um presente, comprar um presente, é aí que vem o LUTO... A Saudade de verdade. 

Aprendi mais uma coisa sobre o LUTO, não há horas, não há minutos, não há segundos: Ora estamos muito bem, ora vem uma conversa, um cheiro, uma lembrança, coisas tão simples, mas que fazem as lágrimas caírem no rosto.
Partilho convosco: Ontem vinha de regresso a casa, senti que as lágrimas me caíram do rosto, frias, geladas, como se o meu coração estivesse assim, gelado. Elas apenas caíram, e eu só pedia para que o J me deixasse ir assim, e não me questionasse em relação a nada... Elas queriam sair, assim como o Duarte quis sair de mim naquele inverno de 2014, era inevitável... 

Tudo é inevitável quando tem realmente que acontecer. 

E o luto é isso, inevitável, essencial, e próprio de cada um. 
Um beijinho com amor.

Para SEMPRE, 
A Mãe do Duarte 

8 comentários :

  1. ❤️ Não há nada que possa dizer... Sinto !!
    Um grande beijinho mãe do Duarte! Um grande beijinho ao Duarte esteja onde ele estiver, será sempre o vosso Duarte, tão vosso !

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  2. Tanbem sou uma mãe chamada Cláudia, de um filho Chamado Duarte...
    Nenhum mãe merece isto... nenhuma...bj e mt força!

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  3. Um abraco apertadinho....nao consigo ter palavras para lhe aquecer o coracao,como queria ser magica e poder de alguma forma minimizar essa saudade!Quero muito que seja tao feliz e a constanca vai ajudar tenho a certeza que no mundo deveriam existir mais claudias com essa força

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  4. Um abraco apertadinho....nao consigo ter palavras para lhe aquecer o coracao,como queria ser magica e poder de alguma forma minimizar essa saudade!Quero muito que seja tao feliz e a constanca vai ajudar tenho a certeza que no mundo deveriam existir mais claudias com essa força

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  5. Mais umas palavras que demonstram a sua enorme sabedoria e a sua capacidade de amar. O Duarte a Constança têm muita sorte em tê-la como mamã.

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  6. Mais uma vez conseguiste transmitir o que vai nesse coração de mãe! É doloroso, mas o tempo ajudar-te-á a superar a perda física. Continuarás a tê-lo presente, mas noutra dimensão! A saudade será imensa! O Duarte estará sempre presente na vossa vida. Vai acompanhar-vos. A Constança vai ter uma mãe maravilhosa. Muitos beijinhos

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  7. Fico assim com o coração apertado só de imaginar. E imaginar não chego aos calcanhares de quem vive essa perda. Fica-me sempre uma sensação de impotência, de desespero, de raiva, de incompreensão por saber que não podemos proteger os nossos filhos de tudo. Não sei se algum dia teria essa força, perder o meu filho seria tirem-me o ar, o chão, tudo. Deixo um grande beijo e uma profunda admiração <3

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