Hoje não sei quase nada, sei apenas o que a minha saudade me diz, o que a minha alma me sussurra.
Sei hoje que a minha vida é como a água, por vezes preciso de a sentir gelada para perceber que tenho que agir para a aquecer, ou que tenho (apenas) de me habituar a esse gelo.
Esse gelo que por vezes dói, nos ossos, na pele, na cabeça, na alma...
Porque a minha vida é água.
A água que agora me escorre pela cara, leve e salgada - é tão bom poder senti-la.
A água passa-me pelos dedos, posso senti-la mas não a posso agarrar.
Tal como a minha vida passou-me "pelos dedos", ontem podia senti-la mas não podia agarrá-la, hoje posso senti-la mas não posso agarrá-la.
Corre em mim o peso do gelo, corre em mim o quente das termas...
Corre em mim a amargura da água, corre em mim a pureza da mesma...
A minha vida é como a água, por vezes sabe mal, mas a verdade é que me é essencial.
A minha vida é como água, transparente... Cheia de boas sensações se as quiser sentir, amarga e suja quando assim tem de ser.
Talvez tenha que atravessar esse caminho de água gelada, amarga e suja, para perceber que do outro lado existe outra quente, límpida, transparente...
Essa que eu não consigo agarrar mas que posso usufruir enquanto ela não acaba.
Pergunto-me: "E ela acaba?" - "Não sei, mas creio que não".
Depende do que para mim é acabar, se tem fim? Não!
Se posso deixar lhe tocar um dia? Sim!
Caminho com os pés na água suja, tanto que nem os vejo - mas eles existem, eles estão lá. Eu quero vê-los, quero só ver o aqui e agora.
O aqui e agora esse caminho de água gelada, amarga e suja... em certas zonas começa a aquecer... aos poucos consigo ver os meus pés.
E quando levantar a minha cabeça e não olhar apenas para os meus pés nesta água suja,
olho o horizonte percebo que este é o caminho que tenho que atravessar para tudo se tornar mais claro para mim, mais quente para o meu coração, mais transparente para a minha alma.
Porque a minha vida é água.
E o meu caminho é apenas isso, um trajecto traçado onde eu posso escolher sentar-me naquela rocha, e continuar a tentar observar os meus pés naquela água suja.
E o meu caminho é apenas isso, um trajecto que eu posso decidir fazer, para que um dia ainda com os meus pés sujos, doridos, feridos de todo o caminho, eu possa sentar-me naquela rocha a olhar o horizonte, com água límpida, quente e que me aconchega.
Jamais poderia dar tanto valor a esse lado, se não tivesse atravessado o outro.
De uma coisa tenho a certeza, esse caminho, jamais o farei sozinha.
Até já filho.
A mamã
Querida Mãe do Duarte
ResponderEliminarSerá que um abraço anónimo lhe poderá aquecer um pouco a alma?
Será que deixará por instantes de sentir o gelo e deixar que a água que lhe corre no corpo,fique ligeiramente morna?
Eu ,que estive por 3 vezes no lugar em que está hoje ,aposto que o amor ,lhe pode devolver um pouco a vida, o Duarte continua a viver em si,e a sua princesa precisa dessa mãe linda !
Continuo à espera que o meu Manuel ,o meu Nuno e a minha Ritinha me apareçam em sonhos,mas nunca apareceram...dava tudo para saber como seriam as suas feições hoje,mas nunca saberei...
Já não existe desespero nessa minha busca incessante,o tempo consolou- me ,mas fiquei sempre com mais perguntas que respostas.
Desculpe está minha intromissão,escreva,escreva muito....
E aqui vai o abraço anónimo prometido,longo,quente e solidário ...